quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Possíveis caminhos do leitor

Possíveis caminhos do leitor:
Link como ferramenta de comunicação
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Manoela Rysdyk
Centro Universitário IPA
Dezembro de 2009




Resumo
Quando se usa uma ferramenta hipertextual, procura-se caminhos para mais informação. Diversos meios são pensados para o leitor deleitar-se. Se o acesso está disponível espera-se funcionalidade. Quando isso não acontece pode estar havendo uma crise de mediocridade da era digital. O autor fingindo que faz, e o leitor por sua vez fingindo que usa. O uso adequado do link, para o jornalismo representa uma grande oportunidade para ambos os lados. O jornalista tem nas mãos uma ferramenta com potencial muito grande em termos de informação.

Palavras chave
Hipertexto – link – jornalismo – informação - portal

O jornalismo digital é um assunto novo que traz a internet como ferramenta de trabalho. Essa nova mídia proporciona muitos recursos para uma nova linguagem. O hipertexto e os links fazem parte dessa nova gama de utilitários digitais.

Autores como Pollyana Ferrari e João Canavilhas falam da potencialidade do uso dos links dentro do texto jornalístico. Ainda apresentam definições que demonstram como o link pode tornar o texto mais atrativo. O leitor tem nas mãos a possibilidade de fazer o seu caminho na leitura. Um bloco de diferentes informações digitais interconectadas é um hipertexto, que, ao utilizar nós ou elos associativos (os chamados links), consegue moldar a rede hipertextual, permitindo que o leitor decida e avance sua leitura do modo que quiser, sem ser obrigado a seguir uma ordem linear ( Ferrari, 2006). Outra definição levantada é que o hipertexto é um conceito fundamental em toda investigação desenvolvida no campo do jornalismo que se faz na Web ( Canavilhas, 2000).
Para o jornalismo o uso adequado dos links requer muito mais atenção na redações on-line no que diz respeito à produção de texto. Uma nova linguagem precisa ser digerida por parte dos usuários e principalmente por parte do profissional.
Tudo isso é muito novo e estamos engatinhando pelo mundo digital. Não podemos encarar a internet como uma mídia que surgiu para viabilizar a convergência entre rádio, jornal e televisão. A internet é outra coisa, uma verdade e consequentemente uma outra mídia, com particularidades únicas. Ainda estamos, metaforicamente, saindo da caverna (Ferrari,2006) .
Dentro desse pensamento mais usual, onde o leitor tem a possibilidade de criar seu próprio caminho. O autor Alex Primo fala sobre uma rede hipertextual predisposta onde qualquer internauta pode ser o co-autor em uma página com diversos links e trajetórias. Porém, a possibilidade de intervir no conteúdo, de sugerir novos links e abrir novos caminhos ainda não está disponível no site. Ou seja, quer-se tratar de autoria não apenas no que troca a leitura ou escolha entre alternativas pré configuradas, mas fundamentalmente no que se refere à própria redação hipertextual (Primo, Hipertexto Cooperativo). O autor fala ainda do hipertexto potencial onde
No hipertexto potencial os caminhos e movimentos possíveis do internauta encontram previstos. Assim, apenas o internauta se modifica, permanecendo o hipertexto com sua redação original (Primo, 2006)
O hipertexto potencial que Primo desenvolveu como tipologia, parece se encaixar na proposta desse trabalho. Pois, em uma matéria onde apresenta links, o leitorr é conduzido a outras páginas e não pode modificá-lo.

Jornalismo Online

O portal Folha OnLine é a versão para Web do jornal Folha de São Paulo e está ligado ao provedor UOL. Uma equipe de aproximadamente vinte pessoas trabalharam para construir o Universo Online, em 1986. Naquela época as informações e até o acesso ao mundo virtual não era como hoje. Foi difícil até conseguir profissionais para fazerem parte do grupo. Hoje a história é outra, são mais de mil pessoas trabalhando no provedor.
A versão apresenta matérias, artigos e notícias separadas por assuntos. No alto da página principal o leitor encontra em destaque palavras que o levam para as notícias, especial, serviço, galeria, erramos, colunas, fale conosco, atendimento ao cliente, grupo folha e assine folha. Cada uma dessas palavras leva o leitor a outras páginas ou ainda, a sub-sessões com assuntos correspondentes. A primeira delas, notícias, mostra logo abaixo do botão uma série de links para outras editorias, que são respectivamente as seguintes: em cima da hora, ambiente, bichos, Brasil, ciência e saúde, comida, cotidiano, dinheiro, educação, equilíbrio, esporte, ilustrada, informática, mundo e turismo. Essas editorias são fixas e levam a páginas com matérias nem sempre do dia, mas a de destaque é sempre a mais atualizada. Voltando a página principal do portal, percebemos que existem um grande número de links, fotos e desenhos que chamam o leitor para um texto. Além disso, um número alto de anúncios o que deixa a página poluída para os olhos.
Pesquisando as matérias principais do site folha Online (www.folhaonline.com.br) nos turnos manhã e tarde, do dia 13 de outubro de 2009, foi constatado que a grande maioria das matérias não utiliza links para outras páginas do site. Depois de passar por nove matérias, sendo elas da página principal do site e da parte “outras notícias sobre o assunto”, não foram encontrados links. Na página dedicada à editoria Dinheiro, foi encontrada uma matéria que apresentou dois links que ligava a outras matérias dentro do site. Por isso, a pesquisa foi realizada na sessão Notícia/Dinheiro.
Em todo caminho que se segue pelo internauta nem sempre uma nova notícia é encontrada, ou uma explicação do assunto. Os caminhos ficam a mostra e revela-se uma seqüência de possíveis caminhos a serem seguidos. A estrutura da rede hipertextual, dá ao internauta essa opção de navegação. Porém, mesmo podendo optar pelo seu trajeto dentro do portal, ele fica limitado pelas sequencias permitidas. Até porque, as opções são limitadas, na medida em que ao clicar o internauta anda em círculo, pois os assuntos relacionados e publicados se repetem nos links. A interatividade que se fala muito nos dias de hoje, não acontece nesse caso.
Alguém, ao observar o computador reagir com um nova informação após seu clique em um link, pode supor que a máquina esteja “dialogando” com ele. Entretanto, nem o hardware nem o software possuem intencionalidade intrínseca. Se o diálogo humano não é uma relação automática, nem previsível, porque então supor que toda e qualquer utilização do computador seja comparada a um diálogo ou uma conversação? No contexto científico em que a precisão conceitual é esperada, definições “como-se” prestam um papel apenas introdutório, já que a metáfora caduca logo ali onde se encontra um olhar mais crítico ( Primo, 2006).

A metodologia privilegiou instrumentos qualitativos (observação e análise do site Folha OnLine). Durante três dias consecutivos do mês de outubro de 2009, nos turnos manhã e tarde foram analisados os textos do portal Folha OnLine. A editoria utilizada foi a Dinheiro, pois as observadas na página principal do site, não apresentavam links.
A era digital está aí para quem quiser acessar. A rede nos trás uma infinidade de possibilidades e caminhos. Pode-se emaranhar-se no mundo digital. Ainda mais, se onde se navega está o desconhecido. O desenho de sistemas hiprtextuais obriga os autores a gerir uma complexa rede de textos e links que permitem uma infinidade de diferentes arquiteturas (Theng et al, 1996). Blocos de notícias, fotos, matéria ou comentários podem ser construídas de diferentes modos. Assim, o leitor que preferir pode aprofundar seus conhecimentos em determinados temas. Durante a análise, o que se usou para a construção do caminho do leitor, foi sem dúvida, um caminho simples, sem muitas curvas. Por um outro lado, se fosse usado a ferramenta com todo o seu potencial, o leitor poderia ficar atrapalhado. Segundo estudos relacionados com a utilização de hipertextos (Batra et al 1993; Hammond, 1989; Marco,2003) um dos problemas mais apontados é a possibilidade de que este tipo de conteúdo possa gerar a sensação de desorientação nos utilizadores.

Um novo jornalismo

A pesquisa foi realizada com intuito de identificar links dentro de matérias do portal Folha Online. Por motivos já citados, não foi possível realizar a pesquisa na página principal. Mesmo na editoria utilizada, dificuldades para encontrar tais links foram muito grandes. Teoricamente, uma notícia constituída por uma rede de textos ligados através de links tem enormes potencialidades. Desde logo liberta o leitor, oferecendo-lhe a possibilidade de escolher a forma como pretende efetuar a leitura. Depois, porque oferece mais informação e contexto, permitindo ao leitor aprofundar o assunto de acordo com as suas pretensões ( Canavilhas, 2000).
Claramente percebemos que a ferramenta, neste caso, não está sendo usada com toda sua potencialidade. Assim, o leitor não tem a possibilidade de criar o seu caminho e nem, a possibilidade de escolher a forma que pretende efetuar a leitura. Pensar o ciberjornalismo como uma nova linguagem e entender a importância dos mecanismos disponíveis, pode ser o grande aliado dos portais que oferecem informação.
A internet ainda está em gestação, a caminho de uma linguagem própria. Para produzir material para Web um jornalista usa meios diferentes de quem escreve para um impresso, por exemplo. Para chamar seu leitor usa-se vídeos, fotos, áudios dentro de uma mesma matéria. A autora Pollyana Ferrari expõe:
A internet é outra coisa, uma outra verdade e consequentemente uma outra mídia, muito ligada à tecnologia e com particularidades únicas. Ainda estamos metaforicamente saindo da caverna (Pollyana Ferrari, 2006).
Usando a ferramenta link pode-se unir em um mesmo assunto várias maneiras de apresentar a notícia. O mais importante de tudo é oferecer informação qualificada. Então, porque não usar e abusar dessa ferramenta? Porém, é preciso faze-la com qualidade.
Achar que o mais importante é oferecer as últimas notícias o mais rápido possível é um grande equívoco do meios. Os leitores raramente percebem quem foi o primeiro a dar a notícia – e, a verdade, nem se importam com isso. Uma notícia superficial, incompleta ou descontextualizada causa péssima impressão. É sempre melhor colocá-la no ar com qualidade, ainda que dez minutos depois dos concorrentes (Pollyana Ferrari,2006)

Conclusões Temporárias

A Web vem tomando espaço importante na vida dos leitores. Há quem leia tudo via internet hoje em dia. Fazer um novo jornalismo é preciso. O principal é fazer com qualidade. Entender as ferramentas disponíveis para isso, é fundamental. O veículo digital tem sede de novidades em tempo real. O leitor quer tudo isso traduzido em poucas palavras. Ao contrário do que acontece no site analisado, a utilização de links deve ser produzido com cuidado. Pois, se por um lado pode causar desorientação com muitos assuntos envolvidos, pode também causar uma falsa sensação de interatividade. O link deve contemplar o leitor mais exigente com informações aprofundadas.

Bibliografia

Canavilhas,João [ 2000 ?]. Hipertexto e recepção de notícia online. (Universidade da Beira Interior, Portugal)
Ferrari, Pollyana (2006). Jornalismo digital. São Paulo: Contexto.
PRIMO, Alex Fernando Teixeira; RECUERO, Raquel da Cunha. Hipertexto Cooperativo: Uma Análise da Escrita Coletiva a partir dos Blogs e da Wikipédia. Revista da FAMECOS, n. 23, p. 54-63, Dez. 2003 2003.
PRIMO, Alex. Quão interativo é o hipertexto? : Da interface potencial à escrita coletiva. Fronteiras: Estudos Midiáticos, São Leopoldo, v. 5, n. 2, p. 125-142, 2003