sábado, 24 de outubro de 2009

Sentimentos aflorados e tecnologias

A mostra “Zona Livre 4” contou com a exibição de três filmes: Haze, Influenza e Vibroboy. Na saída da sessão, Bruno Viana começava a Hora Extra com sua engrenagem cinematográfica.
Os filmes exibidos na sessão das 17 horas da Usina do Gasômetro de quarta-feira (21) são produções do Japão, Coréia do Sul e França.

Haze foi o primeiro da lista e contagiou o público com a sua agonia. Na tentativa de sair de um suposto labirinto onde era quase impossível mover-se, o ator depara com obstáculos torturantes. Claustrofóbico e agonizante.

Influenza usa câmeras de segurança da Coréia do Sul para mostrar o que antecedeu com um homem que tenta pular da ponte do Rio Han. Ele passa por banheiro, metrô, lixo, caixas eletrônicos e estacionamento sempre aplicando truques na tentativa de se dar bem. Quando entra no banco com a sua companheira, ambos armados para supostamente assaltar, são presenteados com dinheiro por ser o cliente número 1000 da agência.

O francês Vibroboy mostra o travesti francesca que presenteia sua vizinha de trailer, Brigittie, com uma estátua asteca. Leon, que não consegue controlar seus atos de euforia, raiva e ciúmes, quebra sem querer a estátua de onde sai outro aparato, uma espécie de vibrador asteca. Enlouquecido ele morre e ressurge como Vibroboy com sua arma vibratória. A sessão passou do nítido desconforto da plateia em suas poltronas para risadas, porém ainda agonizante.

No lounge do CEN, o público comentava a sessão. Pedro Henrique, estudante de Análise de Sistemas, disse que o filme Vibroboy foi o que mais o agradou, devido ao ar undergound. Sobre o primeiro filme, o estudante comentou: “é envolvente, porém quando o ator começou a escutar vozes achei a narrativa desnecessária, pois já estava passando aquilo que a voz dizia”.
Já o Influenza foi engraçado e a montagem interessante, segundo o estudante. Bruna Dal Sasso, estudante, disse: “Quase vomitei. Todos os três filmes são agonizantes. Acho que foi por isso que reuniram todos na mesma sessão”. Alice Castil, estudante de Cinema viveu uma contradição: “ Eu queria sair do cinema e ao mesmo tempo saber como ia acabar”.

Os comentários foram contidos, pois já estava começando o Hora Extra, com Bruno Vianna, que demonstrou como funciona a interface onde ele decidi qual cena vai para tela grande. A edição é feita na hora, as cenas são representadas por pontos luminosos projetados da tela. Com os dedos, Vianna monta o filme e ainda é possível manipular o plano das sequências que serão usadas .
O público ficou curioso com a tecnologia levada por Vianna. Carla Silva, estudante, disse: “desperta o lado lúdico, só não sei se tanta tecnologia pega”. O diretor vai exibir o filme Ressaca amanhã, às 21 horas, na sala P.F. Gastal, com reprise sábado (24), às 17 horas, no Santander Cultural.

** Texto publicado nos sites: Universo IPA e CineEsquemaNovo

Zona Livre e Hora Extra

A mostra Cine en Construcion, de quinta-feira (22), no Santander Cultural, exibiu La sombra del Caminante de Ciro Guerra. Logo depois foi a vez do longa Praia do Futuro, uma produção coletiva.

La Sombra Del Caminante mostra a história de dois homens marcados pelo passado. Um deles é Mañe, que mora em um quarto de pensão dem Bogotá. Sem dinheiro, desemprego, aleijado e com traumas ele tenta arrumar um trabalho. Nas idas e vindas ao centro da cidade, ao ser atacado por um grupo de meninos, ele recebe ajuda. Quando acorda está em um barraco. Quem o ajudou foi um homem que também tem a vida marcada por traumas. O homem carrega gente em uma cadeira adaptada nas suas costas por uma bagatela de 500 pesos. Os dois começam uma amizade rodeada de desconfiança. Um ajuda o outro. Mas, o mistério e as memórias do passado são mais fortes. No primeiro momento, o passado sofrido os une. No decorrer da trama, conforme vão se conhecendo, suas vidas se entrelaçam. O homem desconhecido que ajudou Mañe, na realidade, não era um total estranho.

Para a estudante Maria Laura, o filme passou o sentimento de muita gente que vive nas marge
ns da sociedade. “Escuro e trágico, muito bom”, completou a estudante.

O cenário é o mesmo, a Praia do Futuro, mas a visão é diferente. Vários diretores, sentimentos, lembranças de uma parte muito conhecida de Fortaleza. No total são 15 episódios que formam o filme. Em um bate-papo depois da exibição, os diretores Guto Parente e Fred Bevides apontaram alguns fatores da produção.

A ideia é de grupo multifacetado e por isso a percepção de unidade já nasce impossibilitada. “O filme sempre foi pensado no plural e errôneo. Foi um aprender a tolerar e aprender com as diferenças”, ressalta Fred Bevides. A produção interfere na cidade projetada e a urbanização faz parte disso. “Lá, ou você é muito rico ou muito pobre”, completa.

Guto Parente dirigiu e atuou no primeiro episódio, o qual retrata a ida de uma família à praia. A filha do casal brinca no banco de trás do carro até chegarem ao local. A expectativa é grande, ela quer muito chegar à Praia do Futuro. Enfim, quando lá chega, ela corre para brincar em uma piscina de um quiosque que fica na praia. O diretor fala que cresceu indo à praia com seu pai e que hoje o local é diferente: “existem essas barracas com piscina, para os pais é muito cômodo e para a menina ir à praia, é ir para piscina”. Guto afirmou que vários episódios têm uma questão de incômodo, que podem estar nas entrelinhas. “Essa é uma forma da praia que me incomoda, por exemplo”.

A mostra de longas metragens do festival tem seu último filme apresentado hoje, com reprise amanhã. O encerramento do CEN ocorre na Usina do Gasômetro, às 22 horas.

** Texto publicado nos sites: Universo IPA e CinEsquemaNovo

quarta-feira, 21 de outubro de 2009




Rock e Cinema Marginal na Usina do Gasômetro
A tarde de domingo foi do Cinema Marginal Brasileiro na Usina do Gasômetro. A sessão foi dedicada ao diretor Andrea Tonacci: o conteúdo vem da excelente Coleção Cinema Marginal Brasileiro, um novo projeto que vai lançar 12 DVDs com obras clássicas e muitos extras desta linguagem cinematográfica. Tonacci já teve seu longa “Serras da Desordem” exibido fora de competição em edições passadas do CEN, além de ter sido parte do júri oficial do festival.
A função começou com os extras: a palestra em vídeo de Ismail Xavier e o trailer de “Bang-Bang”, para depois coroar o público com os clássicos “Olho por Olho” e “Blablablá”. Após os filmes, a Hora Extra do CEN (momento entre as sessões para shows, performances e exposiçõies) contou com a música de Matheus Walter, que encheu de estilo a Usina do Gasômetro.
A palestra em vídeo de Ismael Xavier teve como tema o filme “Bang Bang” . O professor comenta que a obra de Tonacci trabalha a ruptura das convenções com os instrumentos tradicionais de um cineasta, como enquadramento, som e foco. O “dodumentário” é interessante pela tensão que guarda dentro dele: um momento característico é a cena do banheiro, onde o enquadramento mostra o espelho, a máquina, o macaco, mas não mostra a equipe deixando um ponto de interrogação. O trailer exibido só deixou um gostinho de quero mais, saciado com a exibição do curta “Blablablá” e de “Olho por Olho”, ambos com a direção de Andrea Tonacci.
Um programa de televisão e um governante dando explicações sobre o seu governo, mesclado com cenas de revolução e tudo que engloba o tema guerra e paz, é o que mostra o cultuado curta de Tonacci. O protagonista transforma as palavras em emoção, suor, tensão e exaltação. Passa um ar de vencedor para vencido. Tudo controlado pelo relógio, em uma luta vã para usar a mídia como substituta da realidade política de um país. Já “Olho por Olho” retrata o vazio que invade a vida de um grupo de amigos. A trama acontece quase toda dentro de um carro, com o rádio ligado, rodando por São Paulo à procura de algo para fazer. A relação com filmes como “Acossado” e “Os Cafajestes”, de Ruy Guerra (também já homenageado no CEN), contemporâneos da produção de Tonacci, é explícita. O carro anda para lugar nenhum. Uma amiga entra em cena e é ela quem busca alguma coisa. Ela atrai um homem, que serve de válvula de escape para os anseios dos jovens em fazer alguma coisa. Um filme altamente contemporâneo, urbano e ainda relevante, que termina com uma câmera reticente à procura de algo.
Depois da sessão, o público pôde conferir o show de Matheus Walter. A sonoridade meio retro de Walter, autor de diversas trilhas do CEN,deu o tom do final de tarde. O músico também está participando do festival como cineasta, com o filme “Tri Massa – Porto Alegre na Choque”.
O estudante de publicidade Eduardo Stelmack disse que o show “foi bacana, porque tem a ver com o ar alternativo do festival”. Sobre os filmes, ele comentou sobre o estranho prazer do ócio exibido por “Olho no Olho”.
A semana promete com a programação do festival. Só não esqueça de desligar o celular durante a sessão!

Manoela Rysdyk
**texto publicado no site do CEN